sexta-feira, 3 de junho de 2016

A Menina Estuprada

Senta que lá vem textão. Certamente foi o que você pensou, pois é exatamente essa frase que tinha em mente quando comecei a digitar. Mas fato é que nós precisamos falar sobre isso. Debater a exaustão, até nos sentirmos fortes, até nos fazermos ouvir.

Não há mulher nesse mundo que não tenha sido constrangida ao menos uma vez na sua vida. Não importa o país, a cultura, a posição social ou nível intelectual. O que me intriga é como? Como isso ainda pode acontecer? Estamos num momento histórico onde há a abertura para diálogo entre nós mulheres (homens são outro departamento e devem ser enfrentados encarados posteriormente, explico melhor abaixo).

Acho que a maioria aqui se indigna com a postura de - principalmente - mulheres questionando se houve ou não o estupro quando há um video mostrando uma menina de 16 anos desacordada sendo exposta e tocada por diversos homens. Oras, isso só não basta para despertar sua ira, nojo e náusea? Será que você não consegue se por no lugar daquela menina e sentir suas entranhas queimar por um ser humano ter sido vilipendiado?


Se não, há algo muito errado com você. Quem pensa que é, ó incolume paladino da pureza, para não se solidarizar?

Vamos voltar um pouquinho no tempo e analisar a sua história: diga-me que você nunca beijou um cara na balada com um hálito horrível só pra não ficar mal com sua "amiga" que estava com o amigo dele? Diga-me se você nunca teve que ouvir comentários repugnantes de colegas e engoliu calada? Aceitou uma carona de alguém que confiava pra ser "cobrada" no final com outras intenções? Nunca se sentiu perdida procurando em personagens o embasamento da sua postura (por isso a mídia é tão importante, como eu repito insistentemente), querendo confirmar ou reafirmar o aquilo que você acha certo?


Todos nós nos sentimos inseguros em dado momento. Isso é normal, já que estamos aqui para evoluir e o processo de crescer é pavimentado em inseguranças, erros e acertos. Também é normal e esperado que pessoas falarão de você, não importa qual seja a sua postura, simplesmente porque a fofoca é algo intrínseco no âmago humano. Isso dito, deve-se estar seguro(a) na filosofia de vida adotada e seguir firme com isso.

Mas como? Segurança só se constrói com muito treinamento (vide as Forças Especiais militares. Você realmente acha que eles já nasceram com o gene dos GI-JOES?). Treino, repetição... e deixa a sociedade falar. Em partes esse é um papel importante para estabelecer limites (ok, todos entendem o conceito de "além da conta"), manter todos num nível tolarável. Em partes é uma forma de se ver livre da sua própria frustração (falar mal da fulaninha que você inveja te traz uma certa alegria, admita). 

Tudo é parte do nosso processo de evolução e cabe a nós sermos melhores a cada dia. Eu tenho um filho (e aqui retomamos o ponto). Ele certamente aprenderá respeito, igualdade, tolerância e compaixão (por todos os seres). Meu irmão já é um desses homens "de nível superior", ainda que minha mãe tenha falhado bastante na igualdade na divisão de tarefas domésticas (tssss, mamis! Só eu com a obrigação de lavar louças e arrumar/limpar a casa? E eu ainda escuto o "mas eu mandei seu irmão fazer mas ele não me obedece"... kd disciplina?).

Onde quero chegar com isso? Você acha que um homem propriamente educado iria receber uma mensagem de texto com "mina dopada, bora passar o trem e arrombá-la" (como me faz mal escrever isso) e pensar, "Opa, demorou? Tô precisando 'comer' uma"???? Aliás, que tipo de animal é esse??? 

Se me permitem, porque eu também sou humana, a esses caras queria que passassem pelo mesmo mostrado no filme "The Girl with the Dragon Tattoo". Juro pelo que me é de mais sagrado que é esse mesmo o meu desejo. Vingança não é um sentimento nobre? Ah, eu sei... tampouco o que a originou.

Eu vejo meu filho e a nossa rotina. Eu sou tudo para ele. Quem provê comida, amor, com quem ele dorme e acorda, a destinarária dos seus sorrisos e gracinhas e por quem ele procura quando quer aconchego ou abrigo. Imagino que todos os bebês sejam assim. Em que ponto da vida isso muda para o cara que recebe a mensagem de "hoje é dia de estupro coletivo"?

Sei que meu bebê irá crescer, se rebelar, testar minha autoridade, fazer burrada, procurar seu espaço nesse mundo pelo velho binomio tentativa-e-erro. Mas perder o respeito? Creio que não. Eu fui uma adolescente rebelde. Dei um trabalho danado, questionava tudo e batia cabeça como ninguém. Errei muito e aprendi com cada erro. Contudo, nunca perdi o respeito pela minha mãe. Nunca desejei ferir alguém como aquela menina foi machucada (não estou me contradizendo... ação gera reação. Eu nunca quis iniciar mal, mas uma vez ele cometido, ainda tenho ganas de vingança. Não disse que sou perfeita).

Está em nossas mãos, como sempre, a mudança. Para tudo. Ao que me parece a revolução é geral, em todos os aspectos. E se os bons não se levantarem para ajudar nessa mudança, que não esperem que os maus aprendam por conta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário