segunda-feira, 23 de maio de 2016

Querida Futura Mamãe

Benvinda a esse insano mundo novo. É importante que você esteja ciente que tudo aquilo que você pensa que sabe sobre maternidade e bebês é relativo e pode não se adequar a sua nova realidade (tantas teorias vãs internet afora). Você é única e exclusiva, e eu provavelmente não te conheço, portanto seria mais justo comigo que eu me referisse apenas ao que vivi.

E eu tenho experiência! Sim, um ano inteiro aprendendo a lidar com esse pequeno ser humano em desenvolvimento que se rebela em alto volume ao meu lado nesse exato momento (nunca julgue outras mães ou pense que "seu filho não será assim" sob pena de pagar a língua), demandando atenção integral.

Essa é apenas uma das inúmeras mudanças na sua vida. Não importa quem você seja, quanta ajuda tenha (espero que para sua própria sanidade e bem estar essa ajuda seja grande), você é, no rol do dia, o único consolo desse pequeno ser que você carrega. Esqueça o pai... honestamente, eles pouco podem fazer nesse momento. Alguns até tentam, mas a verdade é que eles mais atrapalham do que ajudam. O mesmo para o resto da família. Por mais que avós, tias e irmãs tenham conhecimento de causa, a ligação entre você e seu filho é uma exclusividade sua. Confie em você. Parece-me que há um download do manual de mãe durante o parto, pois de repente, você passa a saber o que é melhor para sua cria (e se parar para pensar, é meio lógico isso... vocês passaram meses em sintonia exclusiva).

Isso não significa que será fácil. Pelo contrário. Seja pela enxurrada de hormônios que seu corpo recebeu, seja pelo extremo cansaço oriundo da própria gestação e somado as horas de sono que lhe faltam, você vai entrar numa espiral de medo, desespero, raiva e amor absoluto. Tudo paradoxal e simultâneo. As pessoas ao seu redor irão sofrer pelo seu temperamento, portanto não custa lhes passar um material de leitura para os preparar para tempestade que se aproxima.


Meus dias passam e a única coisa que faço nessa atual vida é correr atrás do bebê (agora, quase literalmente). Não tenho tempo para cuidados pessoais, redes sociais, esse blog abandonado ou vida além das paredes da minha casa. Confesso que tenho silenciosos ataques de raiva e inveja do meu marido quando ele sai para trabalhar me deixando só com o pequeno chupa-sangue.

Queria eu poder sair para trabalhar e passar algumas horinhas focada em outra coisa que não fraldas e papinhas, ou distrações que o entretenham por mais de 5 minutos. Não se sinta culpada por retomar sua carreira. Feche-se dentro de você e veja o que você realmente deseja. Da mesma forma, não se sinta culpada por decidir ficar em casa. Por mais que me sinta uma vaca leiteira em tempo integral, a verdade é que acho esses momentos com meu pequeno algo tão preciso que não abriria mão. Contudo, isso não me impede de reclamar e desejar ao menos umas horinhas do dia para mim, para poder ir a academia, tomar um banho em paz ou até mesmo cozinhar sem o iminente risco de maõzinhas tocarem o fogão.


Perdoe-se. Permita-se. Não se cobre tanto. Não tente se encaixar em moldes prê-existentes. Tudo tem seu tempo e a natureza é sabia. Na hora certa, as coisas acontecerão. A que me refiro? Ao que estiver "encaramiolando" sua cabeça no momento. Eu, por muito tempo, não consegui me ver ou sentir esse amor profundo de ser mãe. Eu me via como fornecedora de leite ou escrava branca mesmo, mas nada daquela nuvem rosa purpurinada descrita e repetidas incansavelmente por mães nos blogs ou forums (detesto mães afetadas que insistem em usar a lingua dos bebês pra se expressar. Coisa mais irritante!). 

Sentia-me um monstro. Como era possivel eu ser tão desconectada? Eu deveria amar loucamente essa coisinha pendurada no meu peito, mas o sentimento que me dominava era o prático, a segurança da rotina. Pensava: mamar, trocar fraldas, dormir, checar temperatura, mamar, cortar unhas, lavar roupinhas, banho, soneca, mamar, uma ou outra leitura pediátrica... até que um dia ele me olhou e sorriu e foi como se o sol tivesse atingido meu peito. Tanto amor e tanta luz, assim, de sopetão, que acabei me debulhando em lágrimas e a partir daí me enamorei e tudo ficou mais leve.

Deixei de pensar no amanhã (sou grata por esse privilégio). Vivo cada hora dos nossos dias. Estou atenta a cada nova conquista (ele está quase andando sozinho). Ou seja, a nuvem cor-de-rosa-com-glitter vai chegar, cedo ou tarde. Relaxe. Respire. Sorria. Evitar estrangular alguém.

O que eu quero dizer com esse textão é, não importa qual tipo de mãe você vai ser, o que importa é que você será mãe. Portanto, já há tantas cobranças mundo a fora, tente não acrescentar mais peso a sua vida. Tudo vai dar certo, e quando estiver difícil, está tudo bem chorar. Mas depois da crise respire fundo (eu insisto nisso), reconecte-se e siga em frente. Se precisar, ligue pra sua mãe ou para "sua pessoa" (Grey's Anatomy feelings).

Aliás, um adendo. Quando eu disse para confiar em si mesma e não se deixar influenciar por opiniões alheias eu não quis dizer isole-se do mundo e faça tudo sozinha. Pelo contrário. Quisera eu poder contar com alguém que me rendesse um pouquinho os cuidados com o Ryan. Eu moro longe da minha família e sonho em ter minha mãe por perto para que possa fazer algumas coisas. Não tenho esse privilégio de contar com alguém, Não estou pronta para colocar o baby na escolinha nem tampouco confio em uma estranha para cuidar dele. Essa é a minha realidade. Se você conta com ajuda, use-a.