segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Impotência

Você assiste a vídeos de menores sendo abusados de alguma forma e instantaneamente reage com “se fosse com meu filho eu matava”. Eu mesma disse isso num grupo do whatsapp dias atrás. 

Mas aí você é confrontado com a realidade e percebe que sua reação não é tão rápida tampouco tão agressiva quando você acreditava/esperava/contava. Infelizmente você não é esse ninja que pensa ser (o que me leva a entender e suportar a vingança).

Ontem estávamos num tram em Dubai. Bebê fazia suas gracinhas e pessoas ao redor interagiam com ele. Ok. Bebê é fofo, não posso culpá-los. Havia esse “cara” sentado um pouco atrás (nós estávamos em pé, na junção dos vagões) que começou a tirar fotos. Aquilo me incomodou… no flash  eu queria dizer, mas me calei. O por que de eu ter ficado quieta me queima as entranhas até agora… too polite. E por que? O “cara” estava sendo rude ao tirar fotos sem autorização então nada mais justo que eu pedir para cortar o flash que poderia prejudicar a visão do meu filho (li isso na internet).

Calei-me… e o que veio a seguir me deixou com tanta raiva de mim mesma que tenho vontade de me estapear (faço isso mentalmente, ininterruptamente, numa tentativa vã de amenizar essa raiva de mim). Pouco antes de saltar do tram o tal sujeito tascou um beijo no meu bebê. Sei lá se isso é comum na cultura dele mas na minha não é. Nem eu beijo meu filho no rosto por medo de  lhe passar doenças, imagina esse completo estranho (e na minha memória alterada imundo, desdentado, repugnante)??? Meu NAO veio atrasado. Não consegui evitar e ainda fiquei toda envergonhada para reagir.

Passado o choque consegui pegar aqueles lencinhos de limpar o rosto, usei uns cinco (até dentro da boca, o que não é recomendável, mas meu nojo era tanto), depois outro anti-bactericida, agua e sabão… mas de que adianta? Não serve para evitar o contagio do que quer que seja nem para amenizar essa culpa que me invade.

Impotente, inútil… que tipo de mãe sou eu? Você já tentou chegar perto de filhotes de qualquer raça ou espécie? A mãe imediatamente se põe na defensiva… e eu, por essa educação idiota, desnecessária e absolutamente … não consigo achar palavras… me mantive quieta, ali, de pé, como uma paspalhona retardada. Claro senhor, pode molestar meu filho no transporte público que está tudo bem.

Estou mal. Não dormi dando google em páginas médicas que me deram uma lista gigantesca de doenças que podem ser transmitidas pelo beijo. Inútil… parva.… idiota. Como se chorar adiantasse alguma coisa. Como se agora você pudesse fazer alguma coisa. Cadê aquela mania de higiene ridícula agora?

Que tipo de gente beija um bebê desconhecido? Assim, sem aviso, sem permissão??? Que mundo é esse? Agora sou obrigada a mudar meu jeito de ser, me ajustar a esse novo e perdido mundo para o qual trouxe esse anjinho tão doce e inocente.

Para Nina, com amor

Cá estamos novamente na estrada. Dubai para o fim de semana. Cá estou eu novamente com meu coração em frangalhos. Meu amorzinho está em casa, sozinha, e ficará assim até nosso retorno.

Eu prometo acordar mais cedo, lhe dar mais atenção, mas a verdade é que o bebê demanda tanto tempo de mim. Eu tenho plena consciência que só lhe dou migalhas. Quase nada daquilo que você estava acostumada (e eu jurei que você não seria a Sofia… olha a gente agora).

Sempre viajamos muito mas você sempre esteve junto. Só que aqui é tão complicado. E não é só isso, faço um mea culpa. Eu prometi mais… você merece mais, contudo deixa a cama passivamente, para se alojar num cantinho, fora do caminho, sem atrapalhar, já que não posso carinha-la e pegar o bebe em seguida (sinto sua mágoa cada vez que lavo as mãos).

Meu Deus, você não é assim! Não nessa submissão toda. Minha forte e valente companheira. Mas o que mais me corta o coração é quando voce me traz seus briquedinhos na esperança de uma atenção.

Desculpa, desculpa, desculpa…. eu te amo. Eu repito e te digo isso todos os dias, mas palavras nao te farao companhia na casa vazia.

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Oh Happy Day...

Um dia bom já começa com noites insones ninadas por um bebê que recentemente descobriu a potência de seus pulmões e o poder altamente convincente de um choro em alto volume. Passa por um café da manhã onde você se pega segurando um balde de café suspenso na sua frente por trinta minutos sem se dar conta.

Segue com uma doída picada de formiga em lugar inapropriado e continua com o aparelhinho de depilar engolindo a carninha fofa daquela parte um pouco acima de trás do joelho.

Após o almoço sua casa é invadida por crianças e você não pode ir ao socorro de sua amada Nina (que lhe suplica colo e refúgio) porque está atrasada para a avaliação na academia (que vem a lhe apresentar cada mínimo músculo que até então você desconhecia).

Contudo, antes de sofrer nas mãos do sádico que se nomeia instrutor, cabe ainda bater no carro do vizinho enquanto dava ré pra sair de casa, mesmo com o apito histérico do carro avisando do obstaculo atrás. É que a esse ponto o bip-bip-biiiiiip se uniu ao zunido constante na sua cabeça numa louca sinfonia que não se escuta mais nada além desse pulsar atrás das orelhas.

Quando falavam que noites insones na compania de um irritadiço serzinho levavam a loucura, eu ri. Só que agora estou feliz por não ter um microondas,