segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Brasil Burro I - Educação Política

Eu tenho andado tão enojada com meu próprio país que quando me perguntam se pretendo voltar a morar lá quase grito não. E não se trata da política corrupta e falha tão somente, mas de tudo que diz respeito a população em geral. Acho que cansei de brasileiros.

É imperativo traçar uma linha divisória entre os dois diferentes "Brasis" que enxergo. O geográfico, pelo qual entende-se tudo aquilo provido pela natureza, como as paisagens exorbitantes, fauna e flora inigualáveis e a beleza em geral que me enche de orgulho. E o político, formado basicamente de povo.

Ferve-me o sangue brasileiros e suas "coisinhas" irrelevantes a nível global mas tidas como prioridade nas discussões (quando) existentes. Seus discursos populistas - tão rasos, sua fúria fugaz, sua preguiça absurda (Macunaíma, finalmente te entendo!), seu falar errado, sua moral deturpada.

"É tudo culpa do governo". Por muito tempo eu neguei isso, querendo que cada um assumisse sua própria responsabilidade. Só que pensando bem, estão certos. De fato a culpa é do governo por ter deixado de ser governo para se tornar mãe, relegando a massiva população ao status de criança birrenta.

Quantas vezes não ouvi que "meus 319 filhos não vão para escola porque o governo não deu..." (insira aqui a opção que mais lhe convém). E desde quando isso é responsabilidade do governo? Onde está a sua responsabilidade como pai/mãe de CRIAR o seu próprio filho e lhe prover o básico???

Eu lembro dos meus pais cortando um dobrado para pagar a mensalidade da escola. Lembro que eu usava um tênis horrível, todo remendado (e era motivo de chacota dos riquinhos da turma, mas também tinha personalidade o suficiente para não dar atenção a isso), pois era o que podia arcar com e ele tinha que durar um ano letivo inteiro (ao menos). Lembro das histórias que minha mãe contava de que ela engraxava o jornal que colocava dentro dos seus sapatos para cobrir os furos e não deixar entrar frio, porque meus avós não tinham condições de comprar sapatos novos (e ela estudou em escola pública). Onde foram parar esses valores? O orgulho?

Penso que talvez esteja me cercando de fontes erradas, mas ao ver a entrevista da menina que precisa de uma roupa importada nova para cada "rolezinho" (que diacho é isso??) enquanto a mãe rala como doméstica sinceramente é surreal! Nesse caso a culpa é do governo ou da mãe que não soube educar a filha? Eu diria do governo, por ter assumido o papel de educador em busca de deixar o povo tão burro a ponto de não saber mais valores e moral.

Contudo, esse é exatamente o ponto onde o governo quer chegar. Com o "emburrecimento" generalizado, a falta de uma elite pensante e a total ausência de parâmetros morais e éticos fica fácil tornar o Brasil uma baderna, missão, aliás, cumprida!

O que vejo estando fora do Brasil (e respirando civilização) é que nós brasileiros (por óbvio, eu inclusa) somos burros, no sentido de ignorantes mesmo. Não por não termos inteligência (o jeitinho brasileiro taí pra nos defender), mas porque nos falta conhecimento e estímulo para buscá-los.

"Mas prá que eu preciso aprender história se não vou usar isso no futuro?". Porque você vai! Uma hora ou outra esses conhecimentos serão cobrados e isso tende a ser no momento mais inconveniente, ou seja, quando você está numa confraternização e longe do Google. Dia desses num jantar um senhor dinamarquês me deu uma verdadeira aula sobre política brasileira, nomeando TODOS os governantes desde a ditadura, seus feitos, fracassos e efeitos para História e eu sequer lembrava quem tinha vindo antes do Collor... fora que meu conhecimento acerca da vida política dinamarquesa (ou qualquer outra coisa que não seja a bandeira e cor do cabelo) é nula.

Converse com qualquer europeu, ou melhor, com qualquer pessoa não pertencente ao continente americano, e você terá uma saudável discussão em qualquer tópico mundial que escolher (já testei isso). Eles tem acesso a informação de verdade, debates de verdade e sabem mais sobre a nossa história que nós mesmos!

Enquanto isso brasileiros se isolam nas suas "comunidades" onde podem discutir burramente lindamente a vida dos outros. Ah, como gostam de picuinhas! Se falam de política, inflamam-se como fósforos, e já se apagam, afinal há uma regra velada de que não se deve aprofundar nesses assuntos.

Dia desses tentava listar pessoas com as quais convivi que eram dignas de admiração. Lembrei dos meus estágios jurídicos e sim, havia seres pensantes por lá, ainda que a grande maioria fosse fraca de caráter (no que tange ao trato as mulheres e a filosofia do "soy macho", matéria para um próximo texto).

Sendo o Poder Administrativo um maníaco controlador que transforma seus cidadãos em muppets, o Judiciário esse Olimpo inatingível sem colhões pra de fato se impor e por alguma ordem (poupe-me dos confetes jogados como cortina de fumaça para encobrir os conchavos políticos armados no backstage) e a mídia comprada (sem exceção), quem poderá nos salvar?

A mídia, aliás, é o que mais me frustra! Ela deveria ser nossa Atenas, justiceira e incansável, retirando os véu, mas pelo contrário, no Brasil presta um desserviço por ser ordinária, vil, covarde e pequena. Assista a tv holandesa ou acesse um dos três maiores sites de notícias de lá. A liberdade para dizer o que se pensa, doa a quem doer e sem o bullshit discurso do politicamente correto para talhar jornalistas. Ok, há lá suas falhas, mas ao menos eles tem coragem e o povo acesso a informações neutras, com a dádiva de poderem analisar por conta e tomar seu posicionamento de forma legítima, sem manipulações.

O Brasil é tão rico (culturalmente falando), tão grande e tão importante, que triste não define sua situação. Somos (nós, brasileiros) um bando de pirracentos mimados que consideram os Estados Unidos o supra sumo do Universo (estamos tão errados!).

Eu vivi nos Estados Unidos e portanto tenho conhecimento de causa. Asseguro que a maior virtude dos americanos é serem mestres em marketing. Só isso. Nós temos muito mais bagagem histórica e cultural, mas não nos valorizamos. Nos vendemos por marcas que para eles são populares (e lá custam baratinho). Um parênteses para a menina do "rolezinho": as marcas que ela citou, se usasse nos EUA seria considerada classe baixa, ou seja, tudo no mesmo e você não tem o reboco do seu barraco além de fazer miserável a vida da sua mãe!

Eu falei, desabafei, escrevi parágrafos, enchi esse post de letras, mas solução mágica não tenho. Aliás, tenho: internet! Com a imprensa comprada (sim, você assiste Globo, acompanha novelas - e isso não é mal, desde que se informe por outros meios) e voltada para manter-nos cegos. Com um governo satisfeito com os resultados que atingiu, afinal, quem de nós de fato levanta e luta? E demais poderes amedrontados, de novo, quem poderá nos salvar?

Precisamos de um herói e rápido. Vivemos num mundo capitalista que basicamente serve-se de explorar os mais fracos. Nós somos fracos e tolos sentados sobre uma mina de ouro. É impressionante que ainda sejamos soberanos!