sábado, 6 de agosto de 2016

Não há lugar como nossa casa

Cheguei a conclusão que não importa muito quantos dias fique por aqui, nunca será tempo o suficiente para matar as saudades que machucam tanto. Dessa vez foram quase dois meses e ainda assim, mal vi as pessoas mais de uma vez.

Foi bom voltar. Foi bom demorar para escrever. Foi bom passar esse tempo mais longo para poder me reconectar com minha terra natal. Foi bom me reencontrar.

Lá fora é fácil “esquecer” de ser brasileira. Olhar tudo sob a ótica européia e até, confesso, com um certo ar de superioridade. De longe é fácil enxergar os defeitos e a ausência cimenta preconceitos que por vezes nem são tão meus (ou nossos, referente a quem mora fora). 

Passar quinze dias por aqui só alimenta esse sentimento, pois afinal, 15 dias são visita, mais um turista em terra brasilis. Mas quase dois meses… daí se volta a ser brasileiro, já que se vive como brasileiro novamente.

Em dois meses fui a bancos, mercados, médicos, restaurantes, comércio em geral… peguei estrada, paguei pedágio, assisti jornal e novela, comi arroz com feijão, conversei muito com estranhos e eu admito que cada dia me enchia de alegria, tal como um bichinho que reencontra seu bando. Aqui, todos me entendem. Não há tradução truncada, não há diferença cultural… todos seguem a mesma lógica ilógica inerente a nós, brasileiros.

Quando lá fora eu costumava dizer que “o problema do Brasil são os brasileiros”. Retiro o que disse e agora me junto ao coro daqueles que defendem nosso povo como maior riqueza. Brasileiros são tududibom. Prestativos, solidários, amigáveis e principalmente, felizes. Há sempre um sorriso sincero (e não aquela coisa forçada que soa como “por mais dois dólares, senhora”).

Viajar com um bebê não é mole, mas aqui eu nem preciso pedir ajuda. É fila preferencial, atendimento prioritário, gente ajudando com malas e brinquedos voadores (atirados pelo Ryan, obviamente), alguém com um bom papo para me ajudar a distraí-lo. Isso não existe lá fora. Pra exemplificar, no aeroporto de Amsterdam eu, que estava carregando o R nos braços pedi ajuda para um funcionário do lugar só pra colocar minha mala grande no carrinho e ele se negou dizendo que estava ali tão somente para empurrar a cadeirante. Eu fiquei pasma (mas xinguei muito)!

Com isso, não digo que somos perfeitos, mas vejo que temos salvação. Desembarcar no Rio trouxe um sentimento duplo, já que ao mesmo tempo que me envergonha aquele aeroporto no estilo rodoviária, com instalações precárias e total desordem (e me dá raiva os banners dizendo quantos milhões foram gastos em coisas que não vi), por outro tinha o calor dos funcionários, que talvez nem vejam o quão ruim é aquilo ali, mas sempre tentam de alguma forma ajudar.

O jeitinho brasileiro, as gambiarras… são sim importantes e úteis, mas talvez, se andassem par a par com uma forma mais holandesa de pensar (direta e reta), conseguiríamos sair do caos que nós mesmos criamos.

Falta sim muita coisa. Atendentes em geral parecem ter memorizado uma forma de tratamento, o que já é um começo… contudo um tiquinho mais de profundidade no que se faz, de realmente conhecer setores, empresas, regras e procedimentos salvariam horas de enrolação. Precisamos aprender a ser mais eficazes e auto-suficientes. Irrita-me essa mania de por babás em todos os lugares (para senha do banco, para formar fila…). 

Eu gostaria de resolver minhas coisas sozinha, como faço aqui fora. Esse excesso de atravessadores só atrapalha (precisei ir no banco cinco vezes pra abrir uma conta e só consegui depois que passei por cima das meninas da senha).

Ao mesmo tempo me pergunto como um brasileiro comum poderia saber disso? De que há outras formas de resolver problemas, de que é possível pensar claramente? Nós não temos a facilidade dos europeus de cruzar fronteiras e conhecer culturas antigas. Estamos cercados por países irmãos na forma de pensar e agir. Não há uma troca produtiva nesse sentido.


O brasileiro conhece o mundo através da tv. E essa tv é péssima. E sim, esse texto termina assim mesmo, aberto para reflexão.