terça-feira, 29 de março de 2016

Timing

Minha cabeça contém diversas ideias e todas elas se esvanecem quase que instantaneamente. Deve ser assim com todo mundo então por que não inventaram ainda um jeito de reter pensamentos (ou sonhos... os meus dariam cada filme incrível)? 

Com isso quero meio que justificar a falta de posts. Penso muito neles. Os redijo mentalmente, mas daí que isso acontece quando estou longe do computador, logo, adiós belo texto. Por exemplo, queria muito dizer: "mas que coisa mais irritante esse Bernardo do passado com sotaque de surfista carioca", ou: "Aeeee, Raul! Capoeira neles!!!" ou ainda: "será que a única fala do Raul é 'saudades Chico' (ou suas variantes), mesmo que ele tenha visto o menino horas antes???" ou mais recentemente "Raul não sabe ser um homem dos tempos modernos, tá sofrível a atuação" e por fim "que felicidade é essa que dança no meu peito ao passar pro tempo atual. Como é bom ver a moda, se identificar com as coisas"... mas como comentar a novela se quando eu comecei a assisti-la ela já havia acabado... de qualquer jeito tô amando Além do Tempo, a única novela que consegui assistir nos últimos anos. 

A verdade é que meus textos dependem da minha insônia, primordialmente. E ultimamente tenho conseguido dormir. Noites capengas, bem verdade, mas quando o cansaço bate esse nível que me encontro, acho que dormiria até de pé dentro do metrô. 

Expandindo para outros níveis, já perdi o passo tantas vezes. E percebo que com o tempo isso tem se tornado mais frequente. Será que a falta de prática suprime o hábito? Be a shark, bite the opportunities... realidade cada vez mais distante. 

Não sou mais essa pessoa. Não tenho mais metas mediatas e imediatas, longas listas de compras e objetivos, estratégias de curto, médio e longo prazo, timelines definidas. Toda a ambição e arrojo ficaram pra trás. Hoje o dia a dia é outro. E se por algum tempo essa troca me incomodou, categoricamente afirmo que essa é a fase mais feliz da minha vida. Não cheia de alegria ou bêbada excitação juvenil, bem verdade, mas com tanto desse amor que preenche cada buraquinho que me basta. Nunca pensei nesse cenário como provável futuro, mas cá estou, flanando entre essas ondas de puro sentimento e amor. E tem tanto amor...

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Impotência

Você assiste a vídeos de menores sendo abusados de alguma forma e instantaneamente reage com “se fosse com meu filho eu matava”. Eu mesma disse isso num grupo do whatsapp dias atrás. 

Mas aí você é confrontado com a realidade e percebe que sua reação não é tão rápida tampouco tão agressiva quando você acreditava/esperava/contava. Infelizmente você não é esse ninja que pensa ser (o que me leva a entender e suportar a vingança).

Ontem estávamos num tram em Dubai. Bebê fazia suas gracinhas e pessoas ao redor interagiam com ele. Ok. Bebê é fofo, não posso culpá-los. Havia esse “cara” sentado um pouco atrás (nós estávamos em pé, na junção dos vagões) que começou a tirar fotos. Aquilo me incomodou… no flash  eu queria dizer, mas me calei. O por que de eu ter ficado quieta me queima as entranhas até agora… too polite. E por que? O “cara” estava sendo rude ao tirar fotos sem autorização então nada mais justo que eu pedir para cortar o flash que poderia prejudicar a visão do meu filho (li isso na internet).

Calei-me… e o que veio a seguir me deixou com tanta raiva de mim mesma que tenho vontade de me estapear (faço isso mentalmente, ininterruptamente, numa tentativa vã de amenizar essa raiva de mim). Pouco antes de saltar do tram o tal sujeito tascou um beijo no meu bebê. Sei lá se isso é comum na cultura dele mas na minha não é. Nem eu beijo meu filho no rosto por medo de  lhe passar doenças, imagina esse completo estranho (e na minha memória alterada imundo, desdentado, repugnante)??? Meu NAO veio atrasado. Não consegui evitar e ainda fiquei toda envergonhada para reagir.

Passado o choque consegui pegar aqueles lencinhos de limpar o rosto, usei uns cinco (até dentro da boca, o que não é recomendável, mas meu nojo era tanto), depois outro anti-bactericida, agua e sabão… mas de que adianta? Não serve para evitar o contagio do que quer que seja nem para amenizar essa culpa que me invade.

Impotente, inútil… que tipo de mãe sou eu? Você já tentou chegar perto de filhotes de qualquer raça ou espécie? A mãe imediatamente se põe na defensiva… e eu, por essa educação idiota, desnecessária e absolutamente … não consigo achar palavras… me mantive quieta, ali, de pé, como uma paspalhona retardada. Claro senhor, pode molestar meu filho no transporte público que está tudo bem.

Estou mal. Não dormi dando google em páginas médicas que me deram uma lista gigantesca de doenças que podem ser transmitidas pelo beijo. Inútil… parva.… idiota. Como se chorar adiantasse alguma coisa. Como se agora você pudesse fazer alguma coisa. Cadê aquela mania de higiene ridícula agora?

Que tipo de gente beija um bebê desconhecido? Assim, sem aviso, sem permissão??? Que mundo é esse? Agora sou obrigada a mudar meu jeito de ser, me ajustar a esse novo e perdido mundo para o qual trouxe esse anjinho tão doce e inocente.

Para Nina, com amor

Cá estamos novamente na estrada. Dubai para o fim de semana. Cá estou eu novamente com meu coração em frangalhos. Meu amorzinho está em casa, sozinha, e ficará assim até nosso retorno.

Eu prometo acordar mais cedo, lhe dar mais atenção, mas a verdade é que o bebê demanda tanto tempo de mim. Eu tenho plena consciência que só lhe dou migalhas. Quase nada daquilo que você estava acostumada (e eu jurei que você não seria a Sofia… olha a gente agora).

Sempre viajamos muito mas você sempre esteve junto. Só que aqui é tão complicado. E não é só isso, faço um mea culpa. Eu prometi mais… você merece mais, contudo deixa a cama passivamente, para se alojar num cantinho, fora do caminho, sem atrapalhar, já que não posso carinha-la e pegar o bebe em seguida (sinto sua mágoa cada vez que lavo as mãos).

Meu Deus, você não é assim! Não nessa submissão toda. Minha forte e valente companheira. Mas o que mais me corta o coração é quando voce me traz seus briquedinhos na esperança de uma atenção.

Desculpa, desculpa, desculpa…. eu te amo. Eu repito e te digo isso todos os dias, mas palavras nao te farao companhia na casa vazia.

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Oh Happy Day...

Um dia bom já começa com noites insones ninadas por um bebê que recentemente descobriu a potência de seus pulmões e o poder altamente convincente de um choro em alto volume. Passa por um café da manhã onde você se pega segurando um balde de café suspenso na sua frente por trinta minutos sem se dar conta.

Segue com uma doída picada de formiga em lugar inapropriado e continua com o aparelhinho de depilar engolindo a carninha fofa daquela parte um pouco acima de trás do joelho.

Após o almoço sua casa é invadida por crianças e você não pode ir ao socorro de sua amada Nina (que lhe suplica colo e refúgio) porque está atrasada para a avaliação na academia (que vem a lhe apresentar cada mínimo músculo que até então você desconhecia).

Contudo, antes de sofrer nas mãos do sádico que se nomeia instrutor, cabe ainda bater no carro do vizinho enquanto dava ré pra sair de casa, mesmo com o apito histérico do carro avisando do obstaculo atrás. É que a esse ponto o bip-bip-biiiiiip se uniu ao zunido constante na sua cabeça numa louca sinfonia que não se escuta mais nada além desse pulsar atrás das orelhas.

Quando falavam que noites insones na compania de um irritadiço serzinho levavam a loucura, eu ri. Só que agora estou feliz por não ter um microondas,

segunda-feira, 4 de maio de 2015

A História de Opa



Quando fui na Anima, o abrigo de animais de Macau, me voluntariar, a ideia era cuidar de vários cães e gatos, fazendo as caminhadas e ajudando no que pudesse. Um amigo uma vez me disse: “se você tem tanto amor ai dentro, porque não dividir com o mundo”. Sentia uma falta terrível da Nina, então porque não distribuir esse amor? Mas assim, na primeira visita, quando me mostraram todos os canis vi você.

Tão frágil e sozinho em meio a tantos outros cachorros, você foi o único a ficar dentro do canil quando o tratador abriu a porta. talvez por medo (ah, que brutos esses outros), talvez por estar em seu próprio mundo (tão você), ficou ali, encarando a parede e tremendo. E desse jeito entrou direto na minha mente e coração.

Por dias pensei em você. Um macho, velhinho já… quem vai querer? Já tinha sofrido tanto! Abandonado nas ruas cego e surdo, com um câncer gigante e infecção por todos os lados. A Anima operou o que dava, mas ainda assim, ali estava você, definhando lentamente.

Com a opção de ser sua guardiã, o levei para casa. Kirstie estava lá. Duas loiras e um schnauzer na moto. Você não reclamou, pelo contrário, ficou quietinho curtindo o vento.

Três meses eram o que todos falavam. Três meses no máximo e esse cachorro deixa esse mundo. Contra tudo e contra todos começamos, no dia da sua vinda para casa, nossa via sacra por veterinários e pet shops. Um bom banho era essencial!

Assim começamos nossa historia. Tão magro e tão frágil que só eu tinha coragem de tocar. Aos poucos você foi se recuperando. Muito amor, caminhadas e brócolis cozidos ao vapor e seu pelo voltou, mas aquela diarreia horrível não tinha cura.

Um ano se passou e ainda assim eu não o tinha ganho. Você confiava em mim, mas não me amava. Seu coração ainda pertencia a maldita chinesa de cabelos compridos que te abandonou.

Eu tentei achar uma família para você, nós dois sabíamos que éramos temporários, mas nenhuma parecia boa o suficiente. Até que com um ultimato, meu tempo em Macau começou a se esgotar. Foi então que decidi adota-lo. Ninguém cuidaria de você como eu e eu estava determinada a dar-lhe o melhor fim de vida possível.

Lá fomos nós, clandestinos no ônibus (tantas vezes). E na moto outras tantas. Você NUNCA reclamou (mesmo quando eu te colocava naquela sacola de pano). Quando assinei os papéis da adoção, voce mudou. Parecia que sabia que era da família (oficialmente). Primeiro passo para ganhar seu coração.

Veio a mudança e você foi ficando triste, (ainda) mais reservado, fechado em seu mundo (será que era isso que tinha acontecido antes?). O xixi regrediu e agora sua cama era a minha mala de bordo que estava aberta no chão do quarto. Mudamos para Kirstie e você voltou a se animar um pouquinho. Comportamento impecável, como de costume.

Mal sabia a luta que eu travava para conseguir trazê-lo conosco. Não queria colocá-lo no navio cargueiro. Tinha tanto (mas tanto) medo que você não aguentasse a jornada. Comprei uma bolsa chique para seus passeios no ônibus (agora, muito mais confortáveis, mas ainda assim ilegais), preparei toda a documentação, mas seguia firme na ideia de traze-lo escondido no ferry boat entre Macau e Hong Kong. Uma horinha só, será que alguém iria notar?

Fortemente desaconselhada o jeito foi mandá-lo de cargueiro mesmo. As dez da noite estávamos lá. E você foi rumo a Hong Kong, na cabine de um navio gigantesco (que exagero pra um cachorrinho tão pequeno!). Voltei pra casa arrasada. Mal dormi e peguei o primeiro ferry da manhã para encontrá-lo. Tinha tudo coordenado: chegada em Sheng Wan (terminal marítimo), taxi para o porto, de lá motorista contratado para nos levar para o aeroporto, reserva no canil do aeroporto, reserva na Qatar Airways (a única que transportava animais). Marido me deixou ainda mais nervosa e os primeiros meses de gravidez não ajudaram muito na travessia.

Mas deu tudo certo. No porto, com todos aqueles caminhões e containers por todos os lados, eu me sentia pequena tentando encontrar o escritório da transportadora. Descolei uma carona de trator com um senhor que trabalhava rearranjando aquelas caixas enormes. Minha esperança era encontra-lo antes do veterinário do governo, e assim passear um pouquinho com voce (imagino a vontade de ir no banheiro depois de 10 horas de viagem).

Não consegui, o escritório me enrolou (ah, que falta não falar chinês) e quando achei você, sozinho naquele espaço metálico de 40 ft, limpinho e feliz já estava escoltada pelo veterinário. Claro que ele não o deixou sair, mas impressionantemente sua casinha estava limpa (eu tinha vindo preparada com toalha e shampoo mais uma almofada limpa). Motorista chegou e rumamos para o aeroporto.

Quando te deixei lá no hotel do aeroporto, que parecia tanto com o seu antigo abrigo, senti sua mágoa. Voce nem quis se despedir de mim. Voltei para Macau arrasada.

Fecha a bagagem, corre para o ferry a noite, chega em Hong Kong, metro para o aeroporto, muito stress depois, fui te buscar no hotel para embarcar rumo a Mascate. Novamente escoltados (o lacre era inviolável) até que te despacharam. Mais dez horas de voo com uma conexão em Doha o esperavam. Você ainda estava magoado comigo, mas fez festinha pro Roy e pra K.

Em Doha eu estava no último de nervoso. Você estava bem? Era a coisa certa colocá-lo nessa jornada? Mas daí, subindo na escadinha do avião pra última parte da viagem eu o vi, sorrindo e feliz ao ser levado para dentro do avião. Sorrindo e feliz!!! Nunca vou esquecer aquela carinha… língua pra fora, respiração ritmada, a maior aventura da sua vida.

No aeroporto em Mascate, finalmente festinha pra mim! Nem o calor desértico, nem a falta de uma faca pra abrir sua caixinha, nada lhe tirava o sorriso. Foi aí que você mudou e me aceitou como sua família. Sim, tínhamos cumprido a jornada e agora você tinha certeza que não seria abandonado de novo.

Que alegria vê-lo correndo na praia. Quem diria que voce ainda teria tanta energia pra pular e nadar no mar. Todas as manhas caminhávamos pela praia, voce fazendo companhia aos meus exercícios de gravidez e pacientemente esperando toda aquela barriga entrar em movimento.

Quase dois anos juntos. Voce recebeu a Nina sem qualquer restrição ou ciúme. Tornaram-se companheiros. Coisa mais fofa vocês juntos.

Naquele dia eu estava tão feliz. Finalmente meu trabalho de parto havia começado. De tarde eu insisti para dar banho em vocês. Eu sei, outra pessoa poderia te-lo feito, mas EU queria dar banho. E entre contrações mal sabia que aquele seria o ultimo banho.

A noite caiu e uma estranha sensação tomou conta da hora. Algo estava muito errado. Não demorou eu dei sua falta, virei a casa, ate que vi o portão aberto. Voce tinha fugido. Contrações a cada seis minutos e aumentando a intensidade. 

Saí pelas ruas a sua busca, onde voce tinha se metido? E que ideia, justo agora, de explorar a vizinhança sozinho. Uma hora, duas… nada de você. Até que a Nina entrou na busca e lógico, te achou. Mas ninguém me contou. 

Eu tinha ido estender suas roupinhas no varal e a Nina, de novo, me mostrou onde voce estava. Eles tinham te escondido no deposito, dentro de um caixinha. Oh meu amor, por que?

Eu, que por tantas vezes pensei que voce não sobreviveria e tinha me preparado para isso no passado não pensei que justo agora, com o bebe a caminho e voce tao bem… estava errado!

Mas esse era voce. Em seu próprio mundo, do seu jeito discreto. Voce se foi quando eu estava distraída e nem me permitiu chorar sua partida pois depois daquele momento tudo que me abraçou foi a dor. A sua falta e as complicações do parto.

Eu sei que fizeram um lindo funeral para voce na minha ausência (tantos dias de hospital, não dava para esperar mais). Eu sei onde jaz seu corpo físico. Mas o que eu queria que voce soubesse é que ainda que não tenha tido coragem de ir lá visitá-lo, eu carrego voce no meu coração.

Espero ter cumprido minha promessa companheirinho. Espero que os últimos meses de sua vida tenham compensado todo o resto. Eu te amei muito.

Saudades sempre…