quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

O Mundo Segundo os Brasileiros

O dia começou promissor, ônibus no ponto no horário esperado, pronta resposta da equipe na Macau Tower, mas ainda assim o nervosismo me acompanhou por todo o trajeto até o hotel onde me reuniria com a equipe de gravação.

Não sei explicar se as borboletas que se agitavam no meu estômago tinham origem no fato de passar o dia gravando um dos meus programas de TV favoritos ou se derivava da minha iminente queda do maior bungy jump do mundo. Ok, esse não era o meu primeiro salto, mas comparar 40 metros de altura quando se tem o espírito rebelde e no auge da sua adolescência aos 233 metros de queda livre que me aguardavam é até ridículo. Despedi-me do meu marido com mil I love you, e me entreguei a trilha sonora no sacolejante coletivo.

No hotel, ali no lobby mesmo, fui equipada com o microfone, enquanto diversos chineses me olhavam (ou ao menos eu assim pensava) enquanto sem qualquer vergonha subia o vestido e prendia os plugs por meia e decote.

Uma vez dentro do taxi, rumamos ao início das gravações. Na agenda estavam previstos Macau Tower, Portas do Cerco, MercadoVermelho, Three Lamps District, Hotel e Casino Lisboa, uma voltinha de triciclo e o encerramento com bolinho de bacalhau.

Começar a gravar foi estanho. Riso nervoso, insegurança com as mãos (estou mexendo-as demais? De menos? Meu cabelo está em ordem??? Droga... a postura, cadê minha mãe nessa hora pra me lembrar de ficar reta? E a voz... Deus, onde foi parar minha oratória? Fugiu... junto com meu vocabulário, só pode!). Achamos um lugar lindo, a beira de um lago (milagre!) de águas limpas, calmo e elegante. Lara me bombardeou de perguntas... não lembro mais o que respondi, só sei que deveria dizer que amo minha família e sinto falta deles (todos eles) todos os dias. Mas ao invés disse morrer de saudades da Nina. Isso é verdade, mas me persegue o remorso de não mencionar os meus... afinal, rede nacional não deixa margem para dúvidas (será que ainda posso acrescentar esse depoimento?).

Dali, Macau Tower. O Henrique, portuga gente boa que agilizou as coisas estava a nossa espera. Sessenta e um andares depois, o deck e a vista de tirar o fôlego. Gravamos algumas cenas, repeti a mesma fala diversas vezes e ouvi ilimitados “não olhe para câmera”/“descontrai”. Eu sabia que não seria fácil, mas não pensei que isso se daria por eu estar “profissional” demais.

Foi decidido que a primeira aventura seria o Sky Walk, imagino eu que para “relaxar” só que tudo que eu pensava ao olhar para baixo era “gente, vamos saltar logo antes que a coragem vá embora. O Sky Walk consiste em uma caminhada pela plataforma externa da torre, preso a um cabo (que eu torcia para ser de aço). Muito mais relax e divertido do que eu esperava, não demorou muito e eu já estava correndo e saltando como se estivesse a poucos centímetros do chão, o que levava ao delírio o horda oriental que me assistia, fotografava e filmava.

Aliás, essa é outra experiência surreal. Por três horas eu fui famosa, com direito a muitas fotografias, gritinhos e sorrisos. Sinceramente, não sei do que as celebridades reclamam, pois pra mim foi tão legal!

Desequipa e equipa de novo, dessa vez pro salto. Troca sapatos, tira mais foto, pesa e repesa (droga, como foi que ganhei cinco quilos naquela balança???), abre-se a porta da plataforma e o vento frio me abraça. Estou a dez passos do abismo, versão literal.

Temporariamente distraída pela pequena entrevista com o neozelandês que gerencia o local, não percebi que a fila que me antecedia já havia acabado até chamarem meu nome. Nesse momento meu sangue congelou e passei a escutar apenas um zumbido que só deu lugar a contagem regressiva, devidamente interrompida pelo meu pânico.

Era isso, hora de saltar. Foi pra isso que vim, certo? Mais uma regressiva e, ridiculamente como quem pula na piscina fazendo bomba, lá fui eu. Enquanto caía, tentava racionalizar. Sei que depois do pânico vem a euforia mas eu mal tinha me entendido na situação já era hora de desatar os pés. Um loop e lá estava eu sentadinha depois da queda. Missão cumprida e eu mais do que super feliz.

Dali, após um breve almoço fomos para as Portas do Cerco. Chegamos no início do rush, e talvez por isso a segurança não nos viu gravando na área de imigração de Macau. Já era tarde para irmos ao Mercado Vermelho, então pegamos um shuttle e caímos no meio da área de jogo do Grand Lisboa.

Ilegalmente e na cara dura, andamos por entre as slots machines, falando e filmando e quando a segurança nos viu, rumamos discretamente para a saída. Honestamente era o nosso dia de sorte. Mais takes, mais repetições, outras coisas de Macau, joalherias que são na verdade casas de penhor e a aventura de explicar para o senhor que guiava o triciclo que queríamos ir em três naquela cadeirinha.

A fila a espera de taxis na frente do Casino Lisboa era gigantesca e novamente foi impossível não me sentir “alguém”. Fim do dia, já estávamos cansados e o cérebro corria lento. O passeio no triciclo foi mais umas das coisas típicas que eu nunca tinha feito. Encerramos o dia com bolinhos de bacalhau e voltar pra casa trouxe uma certa tristeza e vazio. Encerrada essa aventura, agora resta planejar a próxima “arte” da Sra. Carol (ouço minha mãe falar).