O dia começou promissor, ônibus
no ponto no horário esperado, pronta resposta da equipe na Macau Tower, mas
ainda assim o nervosismo me acompanhou por todo o trajeto até o hotel onde me
reuniria com a equipe de gravação.
Não sei explicar se as borboletas
que se agitavam no meu estômago tinham origem no fato de passar o dia gravando
um dos meus programas de TV favoritos ou se derivava da minha iminente queda do
maior bungy jump do mundo. Ok, esse
não era o meu primeiro salto, mas comparar 40 metros de altura
quando se tem o espírito rebelde e no auge da sua adolescência aos 233 metros de queda
livre que me aguardavam é até ridículo. Despedi-me do meu marido com mil I love you, e me entreguei a trilha
sonora no sacolejante coletivo.
No hotel, ali no lobby mesmo, fui equipada com o
microfone, enquanto diversos chineses me olhavam (ou ao menos eu assim pensava)
enquanto sem qualquer vergonha subia o vestido e prendia os plugs por meia e decote.
Uma vez dentro do taxi, rumamos
ao início das gravações. Na agenda estavam previstos Macau Tower, Portas do
Cerco, MercadoVermelho, Three Lamps District, Hotel e Casino Lisboa, uma
voltinha de triciclo e o encerramento com bolinho de bacalhau.
Começar a gravar foi estanho.
Riso nervoso, insegurança com as mãos (estou mexendo-as demais? De menos? Meu
cabelo está em ordem??? Droga... a postura, cadê minha mãe nessa hora pra me lembrar
de ficar reta? E a voz... Deus, onde foi parar minha oratória? Fugiu... junto
com meu vocabulário, só pode!). Achamos um lugar lindo, a beira de um lago
(milagre!) de águas limpas, calmo e elegante. Lara me bombardeou de
perguntas... não lembro mais o que respondi, só sei que deveria dizer que amo
minha família e sinto falta deles (todos eles) todos os dias. Mas ao invés
disse morrer de saudades da Nina. Isso é verdade, mas me persegue o remorso de
não mencionar os meus... afinal, rede nacional não deixa margem para dúvidas
(será que ainda posso acrescentar esse depoimento?).
Dali, Macau Tower. O Henrique,
portuga gente boa que agilizou as coisas estava a nossa espera. Sessenta e um
andares depois, o deck e a vista de
tirar o fôlego. Gravamos algumas cenas, repeti a mesma fala diversas vezes e
ouvi ilimitados “não olhe para câmera”/“descontrai”. Eu sabia que não seria
fácil, mas não pensei que isso se daria por eu estar “profissional” demais.
Foi decidido que a primeira
aventura seria o Sky Walk, imagino eu
que para “relaxar” só que tudo que eu pensava ao olhar para baixo era “gente,
vamos saltar logo antes que a coragem vá embora. O Sky Walk consiste em uma caminhada pela plataforma externa da
torre, preso a um cabo (que eu torcia para ser de aço). Muito mais relax e
divertido do que eu esperava, não demorou muito e eu já estava correndo e
saltando como se estivesse a poucos centímetros do chão, o que levava ao
delírio o horda oriental que me assistia, fotografava e filmava.
Aliás, essa é outra experiência
surreal. Por três horas eu fui famosa, com direito a muitas fotografias,
gritinhos e sorrisos. Sinceramente, não sei do que as celebridades reclamam,
pois pra mim foi tão legal!
Desequipa e equipa de novo, dessa
vez pro salto. Troca sapatos, tira mais foto, pesa e repesa (droga, como foi
que ganhei cinco quilos naquela balança???), abre-se a porta da plataforma e o
vento frio me abraça. Estou a dez passos do abismo, versão literal.
Temporariamente distraída pela
pequena entrevista com o neozelandês que gerencia o local, não percebi que a
fila que me antecedia já havia acabado até chamarem meu nome. Nesse momento meu
sangue congelou e passei a escutar apenas um zumbido que só deu lugar a contagem
regressiva, devidamente interrompida pelo meu pânico.
Era isso, hora de saltar. Foi pra
isso que vim, certo? Mais uma regressiva e, ridiculamente como quem pula na
piscina fazendo bomba, lá fui eu. Enquanto caía, tentava racionalizar. Sei que
depois do pânico vem a euforia mas eu mal tinha me entendido na situação já era
hora de desatar os pés. Um loop e lá
estava eu sentadinha depois da queda. Missão cumprida e eu mais do que super
feliz.
Dali, após um breve almoço fomos
para as Portas do Cerco. Chegamos no início do rush, e talvez por isso a segurança não nos viu gravando na área de
imigração de Macau. Já era tarde para irmos ao Mercado Vermelho, então pegamos
um shuttle e caímos no meio da área
de jogo do Grand Lisboa.
Ilegalmente e na cara dura,
andamos por entre as slots machines,
falando e filmando e quando a segurança nos viu, rumamos discretamente para a
saída. Honestamente era o nosso dia de sorte. Mais takes, mais repetições, outras coisas de Macau, joalherias que são
na verdade casas de penhor e a aventura de explicar para o senhor que guiava o
triciclo que queríamos ir em três naquela cadeirinha.
A fila a espera de taxis na
frente do Casino Lisboa era gigantesca e novamente foi impossível não me sentir
“alguém”. Fim do dia, já estávamos cansados e o cérebro corria lento. O passeio
no triciclo foi mais umas das coisas típicas que eu nunca tinha feito.
Encerramos o dia com bolinhos de bacalhau e voltar pra casa trouxe uma certa
tristeza e vazio. Encerrada essa aventura, agora resta planejar a próxima
“arte” da Sra. Carol (ouço minha mãe falar).