segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Deserto

Amanheceu nublado, os quartos estão mais escuros mas ainda há luz. 

 Eu ilusiono uma tempestade se formando no horizonte.  

Abro a janela na esperança de uma brisa fresca, quase fria, mas um bafo quente me abraça... úmido, grudento. 

Fecho a janela, ligo o ar e lembro que aqui não chove, nem refresca.

sábado, 6 de agosto de 2016

Não há lugar como nossa casa

Cheguei a conclusão que não importa muito quantos dias fique por aqui, nunca será tempo o suficiente para matar as saudades que machucam tanto. Dessa vez foram quase dois meses e ainda assim, mal vi as pessoas mais de uma vez.

Foi bom voltar. Foi bom demorar para escrever. Foi bom passar esse tempo mais longo para poder me reconectar com minha terra natal. Foi bom me reencontrar.

Lá fora é fácil “esquecer” de ser brasileira. Olhar tudo sob a ótica européia e até, confesso, com um certo ar de superioridade. De longe é fácil enxergar os defeitos e a ausência cimenta preconceitos que por vezes nem são tão meus (ou nossos, referente a quem mora fora). 

Passar quinze dias por aqui só alimenta esse sentimento, pois afinal, 15 dias são visita, mais um turista em terra brasilis. Mas quase dois meses… daí se volta a ser brasileiro, já que se vive como brasileiro novamente.

Em dois meses fui a bancos, mercados, médicos, restaurantes, comércio em geral… peguei estrada, paguei pedágio, assisti jornal e novela, comi arroz com feijão, conversei muito com estranhos e eu admito que cada dia me enchia de alegria, tal como um bichinho que reencontra seu bando. Aqui, todos me entendem. Não há tradução truncada, não há diferença cultural… todos seguem a mesma lógica ilógica inerente a nós, brasileiros.

Quando lá fora eu costumava dizer que “o problema do Brasil são os brasileiros”. Retiro o que disse e agora me junto ao coro daqueles que defendem nosso povo como maior riqueza. Brasileiros são tududibom. Prestativos, solidários, amigáveis e principalmente, felizes. Há sempre um sorriso sincero (e não aquela coisa forçada que soa como “por mais dois dólares, senhora”).

Viajar com um bebê não é mole, mas aqui eu nem preciso pedir ajuda. É fila preferencial, atendimento prioritário, gente ajudando com malas e brinquedos voadores (atirados pelo Ryan, obviamente), alguém com um bom papo para me ajudar a distraí-lo. Isso não existe lá fora. Pra exemplificar, no aeroporto de Amsterdam eu, que estava carregando o R nos braços pedi ajuda para um funcionário do lugar só pra colocar minha mala grande no carrinho e ele se negou dizendo que estava ali tão somente para empurrar a cadeirante. Eu fiquei pasma (mas xinguei muito)!

Com isso, não digo que somos perfeitos, mas vejo que temos salvação. Desembarcar no Rio trouxe um sentimento duplo, já que ao mesmo tempo que me envergonha aquele aeroporto no estilo rodoviária, com instalações precárias e total desordem (e me dá raiva os banners dizendo quantos milhões foram gastos em coisas que não vi), por outro tinha o calor dos funcionários, que talvez nem vejam o quão ruim é aquilo ali, mas sempre tentam de alguma forma ajudar.

O jeitinho brasileiro, as gambiarras… são sim importantes e úteis, mas talvez, se andassem par a par com uma forma mais holandesa de pensar (direta e reta), conseguiríamos sair do caos que nós mesmos criamos.

Falta sim muita coisa. Atendentes em geral parecem ter memorizado uma forma de tratamento, o que já é um começo… contudo um tiquinho mais de profundidade no que se faz, de realmente conhecer setores, empresas, regras e procedimentos salvariam horas de enrolação. Precisamos aprender a ser mais eficazes e auto-suficientes. Irrita-me essa mania de por babás em todos os lugares (para senha do banco, para formar fila…). 

Eu gostaria de resolver minhas coisas sozinha, como faço aqui fora. Esse excesso de atravessadores só atrapalha (precisei ir no banco cinco vezes pra abrir uma conta e só consegui depois que passei por cima das meninas da senha).

Ao mesmo tempo me pergunto como um brasileiro comum poderia saber disso? De que há outras formas de resolver problemas, de que é possível pensar claramente? Nós não temos a facilidade dos europeus de cruzar fronteiras e conhecer culturas antigas. Estamos cercados por países irmãos na forma de pensar e agir. Não há uma troca produtiva nesse sentido.


O brasileiro conhece o mundo através da tv. E essa tv é péssima. E sim, esse texto termina assim mesmo, aberto para reflexão.

sexta-feira, 3 de junho de 2016

A Menina Estuprada

Senta que lá vem textão. Certamente foi o que você pensou, pois é exatamente essa frase que tinha em mente quando comecei a digitar. Mas fato é que nós precisamos falar sobre isso. Debater a exaustão, até nos sentirmos fortes, até nos fazermos ouvir.

Não há mulher nesse mundo que não tenha sido constrangida ao menos uma vez na sua vida. Não importa o país, a cultura, a posição social ou nível intelectual. O que me intriga é como? Como isso ainda pode acontecer? Estamos num momento histórico onde há a abertura para diálogo entre nós mulheres (homens são outro departamento e devem ser enfrentados encarados posteriormente, explico melhor abaixo).

Acho que a maioria aqui se indigna com a postura de - principalmente - mulheres questionando se houve ou não o estupro quando há um video mostrando uma menina de 16 anos desacordada sendo exposta e tocada por diversos homens. Oras, isso só não basta para despertar sua ira, nojo e náusea? Será que você não consegue se por no lugar daquela menina e sentir suas entranhas queimar por um ser humano ter sido vilipendiado?


Se não, há algo muito errado com você. Quem pensa que é, ó incolume paladino da pureza, para não se solidarizar?

Vamos voltar um pouquinho no tempo e analisar a sua história: diga-me que você nunca beijou um cara na balada com um hálito horrível só pra não ficar mal com sua "amiga" que estava com o amigo dele? Diga-me se você nunca teve que ouvir comentários repugnantes de colegas e engoliu calada? Aceitou uma carona de alguém que confiava pra ser "cobrada" no final com outras intenções? Nunca se sentiu perdida procurando em personagens o embasamento da sua postura (por isso a mídia é tão importante, como eu repito insistentemente), querendo confirmar ou reafirmar o aquilo que você acha certo?


Todos nós nos sentimos inseguros em dado momento. Isso é normal, já que estamos aqui para evoluir e o processo de crescer é pavimentado em inseguranças, erros e acertos. Também é normal e esperado que pessoas falarão de você, não importa qual seja a sua postura, simplesmente porque a fofoca é algo intrínseco no âmago humano. Isso dito, deve-se estar seguro(a) na filosofia de vida adotada e seguir firme com isso.

Mas como? Segurança só se constrói com muito treinamento (vide as Forças Especiais militares. Você realmente acha que eles já nasceram com o gene dos GI-JOES?). Treino, repetição... e deixa a sociedade falar. Em partes esse é um papel importante para estabelecer limites (ok, todos entendem o conceito de "além da conta"), manter todos num nível tolarável. Em partes é uma forma de se ver livre da sua própria frustração (falar mal da fulaninha que você inveja te traz uma certa alegria, admita). 

Tudo é parte do nosso processo de evolução e cabe a nós sermos melhores a cada dia. Eu tenho um filho (e aqui retomamos o ponto). Ele certamente aprenderá respeito, igualdade, tolerância e compaixão (por todos os seres). Meu irmão já é um desses homens "de nível superior", ainda que minha mãe tenha falhado bastante na igualdade na divisão de tarefas domésticas (tssss, mamis! Só eu com a obrigação de lavar louças e arrumar/limpar a casa? E eu ainda escuto o "mas eu mandei seu irmão fazer mas ele não me obedece"... kd disciplina?).

Onde quero chegar com isso? Você acha que um homem propriamente educado iria receber uma mensagem de texto com "mina dopada, bora passar o trem e arrombá-la" (como me faz mal escrever isso) e pensar, "Opa, demorou? Tô precisando 'comer' uma"???? Aliás, que tipo de animal é esse??? 

Se me permitem, porque eu também sou humana, a esses caras queria que passassem pelo mesmo mostrado no filme "The Girl with the Dragon Tattoo". Juro pelo que me é de mais sagrado que é esse mesmo o meu desejo. Vingança não é um sentimento nobre? Ah, eu sei... tampouco o que a originou.

Eu vejo meu filho e a nossa rotina. Eu sou tudo para ele. Quem provê comida, amor, com quem ele dorme e acorda, a destinarária dos seus sorrisos e gracinhas e por quem ele procura quando quer aconchego ou abrigo. Imagino que todos os bebês sejam assim. Em que ponto da vida isso muda para o cara que recebe a mensagem de "hoje é dia de estupro coletivo"?

Sei que meu bebê irá crescer, se rebelar, testar minha autoridade, fazer burrada, procurar seu espaço nesse mundo pelo velho binomio tentativa-e-erro. Mas perder o respeito? Creio que não. Eu fui uma adolescente rebelde. Dei um trabalho danado, questionava tudo e batia cabeça como ninguém. Errei muito e aprendi com cada erro. Contudo, nunca perdi o respeito pela minha mãe. Nunca desejei ferir alguém como aquela menina foi machucada (não estou me contradizendo... ação gera reação. Eu nunca quis iniciar mal, mas uma vez ele cometido, ainda tenho ganas de vingança. Não disse que sou perfeita).

Está em nossas mãos, como sempre, a mudança. Para tudo. Ao que me parece a revolução é geral, em todos os aspectos. E se os bons não se levantarem para ajudar nessa mudança, que não esperem que os maus aprendam por conta.

Lazy Friday


segunda-feira, 23 de maio de 2016

Querida Futura Mamãe

Benvinda a esse insano mundo novo. É importante que você esteja ciente que tudo aquilo que você pensa que sabe sobre maternidade e bebês é relativo e pode não se adequar a sua nova realidade (tantas teorias vãs internet afora). Você é única e exclusiva, e eu provavelmente não te conheço, portanto seria mais justo comigo que eu me referisse apenas ao que vivi.

E eu tenho experiência! Sim, um ano inteiro aprendendo a lidar com esse pequeno ser humano em desenvolvimento que se rebela em alto volume ao meu lado nesse exato momento (nunca julgue outras mães ou pense que "seu filho não será assim" sob pena de pagar a língua), demandando atenção integral.

Essa é apenas uma das inúmeras mudanças na sua vida. Não importa quem você seja, quanta ajuda tenha (espero que para sua própria sanidade e bem estar essa ajuda seja grande), você é, no rol do dia, o único consolo desse pequeno ser que você carrega. Esqueça o pai... honestamente, eles pouco podem fazer nesse momento. Alguns até tentam, mas a verdade é que eles mais atrapalham do que ajudam. O mesmo para o resto da família. Por mais que avós, tias e irmãs tenham conhecimento de causa, a ligação entre você e seu filho é uma exclusividade sua. Confie em você. Parece-me que há um download do manual de mãe durante o parto, pois de repente, você passa a saber o que é melhor para sua cria (e se parar para pensar, é meio lógico isso... vocês passaram meses em sintonia exclusiva).

Isso não significa que será fácil. Pelo contrário. Seja pela enxurrada de hormônios que seu corpo recebeu, seja pelo extremo cansaço oriundo da própria gestação e somado as horas de sono que lhe faltam, você vai entrar numa espiral de medo, desespero, raiva e amor absoluto. Tudo paradoxal e simultâneo. As pessoas ao seu redor irão sofrer pelo seu temperamento, portanto não custa lhes passar um material de leitura para os preparar para tempestade que se aproxima.


Meus dias passam e a única coisa que faço nessa atual vida é correr atrás do bebê (agora, quase literalmente). Não tenho tempo para cuidados pessoais, redes sociais, esse blog abandonado ou vida além das paredes da minha casa. Confesso que tenho silenciosos ataques de raiva e inveja do meu marido quando ele sai para trabalhar me deixando só com o pequeno chupa-sangue.

Queria eu poder sair para trabalhar e passar algumas horinhas focada em outra coisa que não fraldas e papinhas, ou distrações que o entretenham por mais de 5 minutos. Não se sinta culpada por retomar sua carreira. Feche-se dentro de você e veja o que você realmente deseja. Da mesma forma, não se sinta culpada por decidir ficar em casa. Por mais que me sinta uma vaca leiteira em tempo integral, a verdade é que acho esses momentos com meu pequeno algo tão preciso que não abriria mão. Contudo, isso não me impede de reclamar e desejar ao menos umas horinhas do dia para mim, para poder ir a academia, tomar um banho em paz ou até mesmo cozinhar sem o iminente risco de maõzinhas tocarem o fogão.


Perdoe-se. Permita-se. Não se cobre tanto. Não tente se encaixar em moldes prê-existentes. Tudo tem seu tempo e a natureza é sabia. Na hora certa, as coisas acontecerão. A que me refiro? Ao que estiver "encaramiolando" sua cabeça no momento. Eu, por muito tempo, não consegui me ver ou sentir esse amor profundo de ser mãe. Eu me via como fornecedora de leite ou escrava branca mesmo, mas nada daquela nuvem rosa purpurinada descrita e repetidas incansavelmente por mães nos blogs ou forums (detesto mães afetadas que insistem em usar a lingua dos bebês pra se expressar. Coisa mais irritante!). 

Sentia-me um monstro. Como era possivel eu ser tão desconectada? Eu deveria amar loucamente essa coisinha pendurada no meu peito, mas o sentimento que me dominava era o prático, a segurança da rotina. Pensava: mamar, trocar fraldas, dormir, checar temperatura, mamar, cortar unhas, lavar roupinhas, banho, soneca, mamar, uma ou outra leitura pediátrica... até que um dia ele me olhou e sorriu e foi como se o sol tivesse atingido meu peito. Tanto amor e tanta luz, assim, de sopetão, que acabei me debulhando em lágrimas e a partir daí me enamorei e tudo ficou mais leve.

Deixei de pensar no amanhã (sou grata por esse privilégio). Vivo cada hora dos nossos dias. Estou atenta a cada nova conquista (ele está quase andando sozinho). Ou seja, a nuvem cor-de-rosa-com-glitter vai chegar, cedo ou tarde. Relaxe. Respire. Sorria. Evitar estrangular alguém.

O que eu quero dizer com esse textão é, não importa qual tipo de mãe você vai ser, o que importa é que você será mãe. Portanto, já há tantas cobranças mundo a fora, tente não acrescentar mais peso a sua vida. Tudo vai dar certo, e quando estiver difícil, está tudo bem chorar. Mas depois da crise respire fundo (eu insisto nisso), reconecte-se e siga em frente. Se precisar, ligue pra sua mãe ou para "sua pessoa" (Grey's Anatomy feelings).

Aliás, um adendo. Quando eu disse para confiar em si mesma e não se deixar influenciar por opiniões alheias eu não quis dizer isole-se do mundo e faça tudo sozinha. Pelo contrário. Quisera eu poder contar com alguém que me rendesse um pouquinho os cuidados com o Ryan. Eu moro longe da minha família e sonho em ter minha mãe por perto para que possa fazer algumas coisas. Não tenho esse privilégio de contar com alguém, Não estou pronta para colocar o baby na escolinha nem tampouco confio em uma estranha para cuidar dele. Essa é a minha realidade. Se você conta com ajuda, use-a.

terça-feira, 29 de março de 2016

Timing

Minha cabeça contém diversas ideias e todas elas se esvanecem quase que instantaneamente. Deve ser assim com todo mundo então por que não inventaram ainda um jeito de reter pensamentos (ou sonhos... os meus dariam cada filme incrível)? 

Com isso quero meio que justificar a falta de posts. Penso muito neles. Os redijo mentalmente, mas daí que isso acontece quando estou longe do computador, logo, adiós belo texto. Por exemplo, queria muito dizer: "mas que coisa mais irritante esse Bernardo do passado com sotaque de surfista carioca", ou: "Aeeee, Raul! Capoeira neles!!!" ou ainda: "será que a única fala do Raul é 'saudades Chico' (ou suas variantes), mesmo que ele tenha visto o menino horas antes???" ou mais recentemente "Raul não sabe ser um homem dos tempos modernos, tá sofrível a atuação" e por fim "que felicidade é essa que dança no meu peito ao passar pro tempo atual. Como é bom ver a moda, se identificar com as coisas"... mas como comentar a novela se quando eu comecei a assisti-la ela já havia acabado... de qualquer jeito tô amando Além do Tempo, a única novela que consegui assistir nos últimos anos. 

A verdade é que meus textos dependem da minha insônia, primordialmente. E ultimamente tenho conseguido dormir. Noites capengas, bem verdade, mas quando o cansaço bate esse nível que me encontro, acho que dormiria até de pé dentro do metrô. 

Expandindo para outros níveis, já perdi o passo tantas vezes. E percebo que com o tempo isso tem se tornado mais frequente. Será que a falta de prática suprime o hábito? Be a shark, bite the opportunities... realidade cada vez mais distante. 

Não sou mais essa pessoa. Não tenho mais metas mediatas e imediatas, longas listas de compras e objetivos, estratégias de curto, médio e longo prazo, timelines definidas. Toda a ambição e arrojo ficaram pra trás. Hoje o dia a dia é outro. E se por algum tempo essa troca me incomodou, categoricamente afirmo que essa é a fase mais feliz da minha vida. Não cheia de alegria ou bêbada excitação juvenil, bem verdade, mas com tanto desse amor que preenche cada buraquinho que me basta. Nunca pensei nesse cenário como provável futuro, mas cá estou, flanando entre essas ondas de puro sentimento e amor. E tem tanto amor...